Era 2015 quando autoridades invadiram o escritório do Uber em Amsterdã e as telas dos computadores dos funcionários ficaram “misteriosamente” em branco.
Os documentos revelam que o Uber desenvolveu um vasto sistema para confundir investigações oficiais, indo bem além do que se sabe em relação aos esforços para enganar autoridades. Em vez de apenas desenvolver um software para conectar motoristas e clientes que queriam se deslocar, a Uber se aproveitou de habilidades tecnológicas em muitos casos para ter uma vantagem secreta sobre as autoridades.
Sob ordens de executivos, foi criado um “botão de emergência” que, uma vez acionado, desconectava os computadores da rede interna da empresa, tornando os dados inacessíveis às autoridades enquanto procediam as investigações. O botão de emergência ajudou a impedir a ação dos fiscais ao desconectar os dispositivos do sistema interno do Uber.
Segundo os documentos, esse recurso, chamado por muitos de “kill switch”, foi um exemplo de como a empresa empregava ferramentas tecnológicas para impedir que autoridades investigassem as práticas de negócios da empresa, enquanto a mesma prejudicava a indústria de táxis ao redor do planeta.
Por meio de respostas escritas, o Uber reconheceu o erro e afirmou ter se beneficiado do “artifício” mais de uma dezena de vezes em pelo menos seis países ao longo de um período de dois anos (2015-2017), época na qual Travis Kalanick, destituído do cargo pelo conselho em 2017, liderava a empresa.
Diante da situação constatada, as autoridades reguladoras entraram em ação para interromper as atividades, realizando inúmeras fiscalizações, em esforço para provar que o Uber desrespeitava a lei.
O Uber nunca foi acusado criminalmente de obstrução da justiça, e a empresa disse que desligou as máquinas basicamente para que os investigadores não vissem mais do que estavam autorizados. Funcionários afirmam que sempre quando lhes eram solicitados documentos específicos, na sequência, a empresa costumava fornecê-los.
Embora o software que isola dispositivos remotamente seja comum para que as empresas possam recorrer a ele no caso de laptops perdidos ou roubados, o Uber disse que “tal software nunca deveria ter sido usado para impedir ações regulatórias legítimas”.